
O ex-deputado federal Danilo Cabral (PSB) foi exonerado da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) nesta terça-feira (05), após dois anos e dois meses à frente do órgão. A saída acontece em meio a uma forte disputa política entre lideranças de Pernambuco e do Ceará em torno dos investimentos da Ferrovia Transnordestina, projeto logístico bilionário que tem trechos em ambos os estados.
Danilo anunciou oficialmente seu desligamento por meio de publicação nas redes sociais, onde agradeceu ao presidente Lula (PT), ao ministro Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional) e à equipe da Sudene pelo apoio durante sua gestão. Em tom de despedida, ele reforçou o compromisso com o povo nordestino e afirmou que continuará na luta pelo desenvolvimento regional, com foco especial em Pernambuco.
“Foi uma honra servir ao Brasil, em especial ao povo nordestino, nesse período desafiador e transformador. A Sudene voltou! Continuarei atuando em favor do desenvolvimento do Nordeste — especialmente de Pernambuco, minha terra natal — com o olhar firme na superação das desigualdades e na melhoria da qualidade de vida do nosso povo”
Escreveu.
Pressão do Ceará e disputa pelo comando

Nos bastidores, a exoneração foi atribuída à pressão do governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), que teria articulado junto ao Palácio do Planalto a saída de Cabral para emplacar um nome alinhado aos interesses cearenses no comando da autarquia. A principal motivação seria a condução dos investimentos da ferrovia Transnordestina.
Danilo Cabral vinha defendendo publicamente a retomada do trecho pernambucano da ferrovia, entre Salgueiro e o Porto de Suape — projeto excluído da execução durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e reincorporado ao planejamento federal no atual governo. No entanto, setores políticos e empresariais do Ceará priorizam a conclusão do trecho que liga o interior do estado ao Porto do Pecém, que se encontra em estágio mais avançado.
Durante visita recente de Lula ao Ceará, o tema foi tratado diretamente por Elmano de Freitas, pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, e por representantes da Transnordestina Logística S.A. (TLSA), como o empresário Benjamin Steinbruch. A pressão teria surtido efeito, e a decisão pela exoneração foi mantida em sigilo até que se tornasse pública nesta semana.
Reações e movimentações políticas
A saída de Danilo Cabral gerou forte reação em Pernambuco. Lideranças como os senadores Humberto Costa e Teresa Leitão (ambos do PT), o prefeito do Recife João Campos (PSB), deputados estaduais e federais, além de entidades empresariais como a FIEPE, CIEPE, CREA-PE, LIDE Pernambuco e o Grupo Atitude PE, defenderam sua permanência.
Em nota, o senador Humberto Costa lamentou a saída e elogiou a gestão de Danilo:
“Danilo reestruturou a instituição e devolveu a ela o seu protagonismo em defesa do povo nordestino. Um quadro de grande talento político e enormes qualidades técnicas, que certamente continuará sua trajetória com novos desafios”
Afirmou.
Sudene volta ao centro da política regional
Criada para promover o desenvolvimento sustentável do Nordeste e de parte de Minas Gerais e Espírito Santo, a Sudene voltou a ganhar destaque nos últimos anos após anos de esvaziamento. Durante a gestão de Danilo, a autarquia se envolveu em projetos de inclusão digital, infraestrutura hídrica, investimentos logísticos e articulações com o Novo PAC, além de recuperar parte de seu protagonismo institucional.
Apesar disso, o cargo de superintendente da Sudene se tornou alvo de disputas políticas dentro da base governista, especialmente diante da aproximação das eleições de 2026. A indicação do próximo nome ao comando do órgão ainda não foi oficializada, mas circula nos bastidores que o favorito seja Francisco Ferreira, segundo suplente da senadora Teresa Leitão, numa tentativa de manter o controle político do cargo em Pernambuco.
Encruzilhada federativa
O episódio escancara as dificuldades do governo federal em equilibrar os interesses dos estados do Nordeste, especialmente quando se trata de projetos estruturantes e disputas por recursos. A exoneração de Danilo Cabral, apesar do reconhecimento técnico e do apoio de amplos setores da sociedade pernambucana, demonstra que, na engrenagem política de Brasília, muitas vezes prevalece o jogo de forças regionais.
A ferrovia Transnordestina, que deveria unir os estados em torno do desenvolvimento logístico e econômico, acaba expondo velhas rivalidades — e um novo capítulo dessa história ainda está por vir.